Competir faz parte da natureza humana. A competição é decisiva no crescimento e desenvolvimento das crianças. Contudo a competição embora seja intrínseca à natureza humana, não é de per si nem boa nem má, depende do uso que lhe damos.
A competição é como na metáfora do Prof. Dr. Carlos Gonçalves como uma faca. Esta não é boa nem má de per si, depende do uso que lhe dermos. Se eu utilizar uma faca de cozinha para dar uma facadas numa pessoa, a faca não está a ter certamente bom uso. Se eu utilizar a mesma faca para trinchar um frango, que vou num almoço partilhar com amigos, a faca não apenas é útil, como se torna num bom instrumento.
Na formação desportiva a primeira coisa que devemos compreender é que a competição desportiva dos mais novos é um instrumento, um meio, para o desenvolvimento dos praticantes e não a finalidade. Assim sendo a competição é profundamente necessária e adequada às crianças, quando serve para que estas se concentrem, se empenhem, se esforcem, tenham o desejo de serem cada vez melhores, saibam cooperar com os companheiros de equipa e respeitar os adversários, e é muito negativa se servir para que as crianças assistam a cenas profundamente lamentáveis e deseducativas de pais agredirem-se, a insultarem os árbitros e os adversários. É também altamente negativa se servir para os treinadores ensinarem crianças a mentir e a simular lesões, para por exemplo serem substituídas por um companheiro que o treinador entende ter maior rendimento. É profundamente negativa, se para alcançar uma vitória o treinador utilizar crianças, a quem nada ensinam, em processos tácticos não adequados à aprendizagem do jogo, apenas para libertarem o melhor marcador da equipa, como se pertencessem a uma equipa sénior. É decisivamente negativa quando dirigentes e treinadores utilizam as crianças em função do seu ego e promoção.
É aqui, que uma vez mais o projecto do MCBA me agradou muito. Não há dúvida que houve competição, mas tanto quanto me foi dado a perceber houve em simultâneo uma grande preocupação de acompanhamento e monitorização dos comportamentos dos professores envolvidos no processo. E para mim mais surpreendente houve um esforço de envolvimento dos pais, através de reuniões, em que eram estes que iam dizer e definir o que era para eles o “fair-play”. Ao envolverem os pais no processo de definição do que é o “fair-play” o projecto do MCBA acaba, não apenas, por envolver mais os pais no processo educativo dos seus filhos, mas acima de tudo a assumirem compromissos de comportamentos, pois apenas se lhes está a pedir que eles façam o que acabaram de dizer, que seria melhor para os seus filhos. Envolver e comprometer os pais é certamente um bom caminho, e recuperar a noção de compromisso é cada vez mais necessário nos tempos que vivemos.