Basquetebol com utopia
 
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Basquetebol com utopia

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João RibeiroEra previsível que mais dia, menos dia, a Federação Portuguesa de Basquetebol comunicasse o cancelamento das competições nacionais dos escalões de formação. Talvez na mente de muitos ainda restasse uma minúscula esperança de que lá para junho ou julho ainda houvesse possibilidade de haver um ou outro jogo.

Mas a realidade é que a prática efectiva do Basquetebol está parada, imobilizada por uma pandemia que nos confina à recordação de outros tempos. Nas redes sociais tenho constatado que muitos são os que partilham recordações: as fotos das equipas que treinaram, memórias de jogadores do passado são alguns dos desafios lançados. Talvez seja tempo de olharmos para trás e constatarmos, publicando o nosso próprio comunicado oficial, que o Basquetebol que conhecemos até ao início de Março chegou ao fim.

E parece-me que talvez não seja absurdo pensarmos que efetivamente chegou ao fim e que já não podemos imaginar sequer que quando a “normalidade” nos visitar será um simples ligar de interruptor e que tudo voltará a ser como era. Para que eventualmente possamos preparar esse regresso, talvez seja possível começarmos a pensar que diariamente a nossa Federação se prepara para uma recolha de dados que permitam projectar o futuro.

Eu quero acreditar que o primeiro passo poderá passar por juntar pessoas que pensem na forma de desenvolver instrumentos de recolha de dados, em jeito de rescaldo, relativos ao impacto de uma paragem desta natureza. E quero igualmente acreditar que as associações distritais farão o mesmo exercício.

Se falamos em estado de guerra falamos igualmente de vítimas desta brusca paragem. E a primeira vítima será naturalmente o praticante, principiante ou sénior, ou até veterano. Impedido de praticar muitas serão as reacções inerentes. Haverá garantias de todos os praticantes se manterão fidelizados à modalidade? Provavelmente o atleta profissional sim, pois quererá recuperar o seu posto de trabalho o quanto antes. Ao atleta ou à atleta que aspiravam contribuir para que a sua equipa fosse o mais longe possível no respectivo campeonato nacional também quero crer que a motivação para voltar a poder praticar, treinar e competir é alta.

E o jovem principiante que provavelmente tinha iniciado a sua prática nesta época? Teremos garantias de que irá voltar? Bastará enviar um e-mail ou uma mensagem a dizer que recomeçaram os treinos? A normalidade que aí vem trará as mesmas condições para treinar?

E relativamente aos Pais dos atletas? A conjuntura sócio económica dos tempos que aí vêm permitirão que continuem a ser o maior suporte financeiro e logístico de muitos clubes e respectivas equipas? E tudo o que referi ocorrerá da mesma forma em Lisboa, Porto, Olhão, Covilhã, Vila Real ou Monção? Será tempo de se desenvolverem instrumentos de recolha dos danos.

E talvez pelos piores motivos será tempo de, com dados objetivos, verificarmos que as assimetrias no que respeita ao desenvolvimento e crescimento da modalidade são completamente díspares por este país fora. E que muito do que se poderia passar com a realidade basquetebolística, em Viseu, ou Guarda, poderá agora ser uma realidade também em Setúbal ou Coimbra. E poderemos igualmente inclusive assistir a um contágio em massa em muitos clubes que tradicionalmente apresentavam uma representatividade significativa.

E se pensarmos que os clubes da Liga Portuguesa de Basquetebol vão conseguir reerguer-se, mesmo com muitas dificuldades, poderemos estar na eminência de outros clubes sofram danos irreversíveis. Daí que a verdadeira utopia é pensar que é tempo de desencadear um verdadeiro programa de análises SWOT relativas ao estado do nosso basquetebol, alicerçada numa verdadeira teia de cooperação entre entidades nacionais, regionais e locais.

E se pensarmos que muitos atletas se irão perder depois deste período de confinamento, teremos igualmente de ter a lucidez de perceber que, esperemos, o número total de crianças e jovens em Portugal não vai diminuir; e que naturalmente saberemos onde estarão quando tudo voltar à dita “normalidade”. O “Computador Desportivo” do nosso país necessitará de ser formatado novamente.

E muitas modalidades desportivas quererão estar prontas para o novo arranque da máquina. Quem conseguir dispor de mais dados e detetar mais precocemente as forças, oportunidades, fraquezas e ameaças, provavelmente estará mais próximo de poder desenvolver um “sistema operativo consistente” e “software” aliciante, capaz de dinamizar e revitalizar o processo. Diria ainda que é tempo de fazermos um scouting à nossa própria Equipa.

Elencando até ao mais infímo pormenor o que queremos observar. É tempo de construir um plano estratégico nacional de revitalização do basquetebol Português, levando essa ambição até ao poder político nacional, regional e local, influenciando positivamente as estruturas e instituições sobre o valor pedagógico, social e desportivo do Basquetebol. Esta é a uma verdadeira utopia que nos deve guiar e não isolar.

 

 


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