No artigo anterior enunciei alguns dos princípios que poderão ser úteis para delinear uma estratégia de estruturação de quadros competitivos regionais e nacionais. Enunciei também alguns constrangimentos que efetivamente têm sido factor para que nem sempre seja possível pensar no interesse do jovem praticante.
E no meu ponto de vista a principal barreira parece ser a assimetria do nosso país, quer geograficamente, quer desportivamente. Existindo uma resistência misteriosa para nos atrevermos a pensar o país desportivo de outra forma, menos dispendiosa.
Se a norte tem sido possível às associações muito próximas geograficamente cooperar para criarem quadros competitivos que garantam um volume significativo de jogos, a sul parece continuar a ser difícil isso acontecer.
A realidade do nosso país é sempre vista numa perspetiva de distrito e não de proximidade de clubes. Parecendo-me que este fato continuará a ser uma forte barreira à inovação e desenvolvimento desportivo, de uma forma geral, e para o desenvolvimento e crescimento do basquetebol em particular. Se olharmos para a história do nosso basquetebol, verificamos que antes da organização distrital, as associações de clube foram mentoras do desenvolvimento da modalidade, muito à custa da proximidade dos clubes intervenientes em cada uma dessas mesmas associações.
Continuo convicto que por muito que a modalidade resista ou sinta dificuldade em aproximar-se do contexto escolar (constate-se o enfraquecimento do projeto 3x3 basquetebol nas escolas e a diminuição significativa de grupos equipa de Basquetebol, no âmbito do Deporto Escolar) é na escola que estão os praticantes (sejam eles candidatos a o serem ou já fidelizados). Pelo que considero que muito contribuirá pensar-se numa reorganização do mapa do Basquetebol em Portugal. E nesse sentido, a lógica com que geograficamente a educação está organizada poderá aproximar mais clubes, poderá contribuir para aumentar o volume elevado de jogos, poderá estimular uma sã competitividade na qualidade do trabalho desenvolvido por cada clube no sentido de contribuir para o aumento do equilíbrio entre eles, poderá proporcionar quadros competitivos curtos e variados, permitir aos melhores de cada região irem o mais longe possível nas suas competições sem que deixe de haver competição para os que não foram para as competições nacionais.
Há uns bons anos atrás, juntamente com um colega de profissão, Jorge Martins, filho de um histórico treinador de basquetebol em Coimbra – Alberto Martins -, foi possível desenhar um país basquetebolístico diferente.
7 Associações Regionais, com analogia aproximada às direcções regionais de educação: Algarve, Alentejo, Lisboa, Centro e Norte, Madeira e Açores. Cada Associação Regional tem as suas associações de clubes, quem poderão muito bem associar-se sempre que o número de clubes assim o justificar. Certamente estaremos a falar de menos necessidade de recursos humanos, por cada associação (em comparação com a organização actual).
Diria até que, numa perspetiva de captação e fomento, esta organização poderia muito bem sustentar um plano experimental, a nível nacional, de fomento do Minibasquete, onde a terminologia associativa poderia ser substituída pela nomenclatura de Comité Regional e respetivos Comités Locais.
Claro que a utopia desta ideia tem, como já referi, a barreira da actual organização das associações distritais. Não tenho dúvida de que se forem quebradas as barreiras de diversa ordem, quem têm dificultado pensar-se de acordo com aquilo que “jogar para um futuro melhor” nos pede, a mudança trará mais benefícios do que prejuízos para a modalidade. Neste momento, parece-me que teremos mais a ganhar do que a perder relativamente a pensar de forma diferente. Podendo até sermos pioneiros de uma nova visão da organização desportiva infanto-juvenil no nosso país. Aliás, talvez o exemplo da organização do basquetebol nas regiões dos Açores e da Madeira nos possam trazer ideias para que no território continental se consiga implementar um modelo diferente.
No próximo artigo trarei a forma como os clubes de basquetebol de há quase uma década atrás estavam dispostos num mapa desta natureza. Facto que só por si nos dá uma visão de certa forma optimista, na minha opinião.
Comentários
Parabéns pela tua sequência de artigos Basquetebol com utopia. Já era para ter comentado mais cedo, mas acabei por não o fazer.
Contudo neste artigo senti-me mesmo impelido a comentar. Antes demais deliciei-me com a expressão da resistência misteriosa para nos atrevermos a pensar no país desportivo de outra forma.
Independentemen te da forma alternativa ao actual modelo da reorganização desportiva e administrativa, o basquetebol também terá de responder às seguintes perguntas, quero um basquetebol e implantação no país inteiro? ou apenas nos centros urbanos de maior densidade populacional. Se queremos implantação no país inteiro temos de ver onde é que há e onde é que queremos que surja mais basquetebol e com base em que critérios.
Bem vindo ao grupo que pensa que deve haver uma reorganização desportivo administrativa do basquetebol. Estou com muita curiosidade do teu levantamento, Motivaste-me a voltar a falar neste tema. Obrigado.