Nos três anos em que vivi na Madeira concebi e pus em prática um projeto de atração à modalidade, que designei “A magia do 1º Cesto”. Essa iniciativa possibilitou-me percorrer muitas freguesias de todos os concelhos das ilhas da Madeira e Porto Santo,
onde interagi nas escolas com muitas crianças do último ano do pré e crianças do 1º ano de escolaridade. Essas ações, mais as múltiplas dezenas de ação de captação, nas escolas do primeiro ciclo, que realizei a pedido dos clubes da Associação de Basquetebol da Madeira permitem-me dizer, que lidei muito largamente para cima de um milhar de crianças.
O trabalho desenvolvido e a possibilidade de observar tantas crianças possibilitou-me reforçar as minhas convicções. Os Minis-6 existem não pelo interesse das crianças, mas pela necessidade, que as federações e não estou apenas a falar do basquetebol, tem de apresentar ao estado o maior número de praticantes; e pela necessidade de financiamento dos clubes. Também sei que há clubes, que abrem o escalão de Mini-6 para facilitarem a vida aos pais, que são quem transporta as crianças para os pavilhões, nomeadamente quando há um número significativo de irmãos mais velhos a praticarem minibásquete. Mas essa situação entronca no problema de fundo já aqui, tantas vezes mencionado, que se chama horário escolar.
Mas, vou abordar os motivos pelos quais, antes da minha passagem pela Madeira, eu já considerava despropositada a criação do atual escalão de Mini-6, que tem à partida mais implicações que possa parecer. Como, por exemplo, como é feita a preparação dos treinadores deste escalão? O saudoso Prof. Hermínio Barreto explicou, a partir dos fundamentos, com enorme clareza, quando é que devemos colocar uma criança num jogo de minibásquete:
- Drible: Quando já dribla e nem que seja momentaneamente consegue dissociar o olhar dos batimentos.
- Passe: Quando com duas mãos consegue passar a bola, sem ser em arco e com alguma precisão para um companheiro, e principalmente quando consegue receber a bola sem receio.
- Lançamento: Quando a criança consegue atirar a bola ao cesto e esta descreve mais ou menos uma trajetória em arco semelhante a um lançamento.
Enquanto estes fundamentos não estão resolvidos, não vale a pena pensar em ensinar o jogo. Destes fundamentos o que mais me preocupa é a receção da bola. Mas esse tema, assim como o tema do lançamento, fica para outra ocasião.
Com isto não quero dizer, que as crianças não devam ou não possam ser estimuladas no desenvolvimento das suas capacidades coordenativas visando a modalidade. Podem e devem, no entanto, com materiais diferenciados, cestos mais baixos, que os cestos de minibásquete e diferentes bolas, por exemplo, nas brincadeiras que conduzem ao ensino do drible utilizar bolas nº 5, nº 5 mais leves, nº 4 e nº 4 mais leves. Podem e devem experimentar várias bolas. Cada criança é um mundo, uma alma e diz-me a minha experiência, que umas aprendem mais depressa a driblar com a bola nº 5 mais leve, outras com a nº 4, etc, pelo que deve sempre haver material diferenciado, que facilita as aprendizagens. Colocá-las na situação de jogo, considero não ser adequado, e pode ter riscos de se magoarem. Normalmente, quando observo jogos com estas idades fico com a sensação, que estes são mais para diversão dos adultos, que acham muita gracinha as atrapalhações e reações das crianças.
Regressando à Madeira, ainda bem que a Helena Constantino, continua no CAB, com o escalão dos Mini-6, pois pelo jeito que tem em lidar com os mais novos e pela adequação das atividades, que seleciona nas suas sessões é um bom exemplo que eu gosto sempre de realçar. Sei que felizmente há mais casos, normalmente treinadoras.
PS. Quanto ao companheiro Henrique Santos, que com o seu comentário, no meu artigo anterior estimulou a escrita de mais esta reflexão, um forte abraço e espero que tenha ficado clara a minha posição sobre este tema, que em tempos já tinha sido aflorada no meu artigo “Real Bodies” de 16 de Fevereiro de 2016.
Comentários
Devo ao meu mestre prof. Mário Lemos e ao que via com o prof. Teotónio Lima.
Um abraço prof. San Payo.