A atividade desportiva cativa e mobiliza praticantes, treinadores, árbitros e dirigentes. Falamos muito sobre captação e atração à modalidade de praticantes, treinadores, árbitros e dirigentes.
Já o tema do abandono da modalidade é um tema mais esquecido. Salvo melhor opinião, devemos olhar para a desistência da prática desportiva globalmente, e não apenas parcialmente. Na abordagem do abandono da modalidade a atenção geralmente fica mais centrada no abandono dos praticantes. Se, a desistência dos treinadores, jovens treinadores e treinadores com muitos anos dedicados à modalidade, a desistência de árbitros, nomeadamente de jovens árbitros já não é um tema muito abordado, o abandono de dirigentes só muito raramente é um tema de reflexão.
É evidente que as causas do abandono são diversificadas e muitas das vezes pessoais, contudo será importante verificar se há denominadores comuns. Nos três anos que vivi na Madeira, e na procura de treinadores, nas visitas às escolas, falei com muitos professores e chamou-me a atenção, que pelo menos que eu me lembre, quatro professores do ensino básico, que já tinham treinado equipas de basquetebol tinham abandonado a modalidade.
Também me empenhei, com relativamente baixo sucesso, em cativar jovens para as arbitragens dos jogos de minibásquete. Os motivos das desistências eram vários, mas entre todos havia um denominador comum. Esse denominador era um certo cansaço dum ambiente de tensão e crispação, que em todos os fins de semana tinham de saber lidar.
Uma coisa é a perceção, outra é a realidade e muitas das vezes estas não coincidem. Tenho a perceção, que após a pandemia, em vez de estarmos a festejar a possibilidade de vermos as crianças e jovens a jogar, muitos adultos, não todos evidentemente, detesto generalizações, aproveitam esses momentos para ter comportamentos, cada vez mais desajustados, ao que deve ser o ambiente em torno das competições infanto juvenis.
Infelizmente fiquei a saber pelo jornal Público, que este aumento generalizado de comportamentos inadequados, não é apenas uma perceção é uma realidade, principalmente no futebol, mas também nas outras modalidades.
Segundo o Diretor Geral da Polícia Magina da Silva e cito: “Uma realidade de violência que também se começa a propagar nos jogos das camadas jovens. A PSP registou o dobro dos incidentes na época 2021/22 face aos dados registados em 2018/19, última época completa com público nas bancadas antes da pandemia de covid-19.”
Talvez não seja a causa mais importante para o abandono de jogadores e dirigentes, mas a violência verbal ou mesmo física, tem certamente muita influência no abandono de treinadores e principalmente de jovens árbitros. Curiosamente, tenho a perceção de que, quem mais insulta os árbitros é quem mais se queixa de haver jogos sem árbitros.