Chegar a cada vez mais crianças
 
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Chegar a cada vez mais crianças

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Prof. Mário Joel Na senda de perceber que vantagens teria uma reorganização geográfica e administrativa do basquetebol, passados mais de dez anos resolvemos ouvir de novo o Prof. Mário Joel e saber o que, na sua opinião, se alterou na modalidade nos últimos 10 anos.

Próximo de celebrar as suas “bodas de prata”, o Alenquer Basket Clube nasceu em janeiro de 2000. É importante compreender e ouvir de novo as dificuldades, que um clube periférico de um grande centro urbano, sente.


1. Passados mais de 10 anos sobre a tua entrevista anterior quais foram, na tua opinião, as transformações para melhor ou pior que houve na modalidade?
De facto, ao longo destes anos aconteceram algumas alterações na nossa modalidade, nem todas elas benéficas para o crescimento e desenvolvimento da modalidade. Começando pela desejada massificação da prática, reconhecemos a importância de projetos como o “Basketart” e do “Jr NBA” da mesma forma que com lamento assistimos à perda de fulgor 3x3 nas escolas. Este último contribuiu ao longo de décadas para a entrada de novos praticantes na modalidade federada, propósito esse que deve ser sempre um dos principais objetivos do Desporto Escolar. Não obstante, no Basquetebol praticado no clube de Desporto Escolar continuamos a verificar que a entrada de novos praticantes está em muito dificultada pelo regulamento, que continua por um lado, a reproduzir um quadro competitivo semelhante ao federado e por outro a permitir/incentivar que a equipa escolar (ao contrário do que o regulamento do 3x3, para os primeiro escalões, permitia) seja integrada 100% por atletas federados, o que leva a que não poucas vezes a final do campeonato nacional do desporto escolar seja disputada sem novos praticantes e pelos mesmos que disputaram jogo equivalente no federado.

Especificamente ao nível do Basquetebol sob a alçada da Federação Portuguesa de Basquetebol, penso que se tem, e bem, investido na formação de treinadores. A “reboque” das imposições colocadas pelo IPDJ, as ações de formação sucedem-se e a adesão tem sido (achamos) bastante boa. Mas a realidade observada por alguém, como nós que de há 30 anos a esta parte exerce a sua função como treinador junto dos mais jovens é que tal não tem sido suficiente para impedir más práticas e maus contextos de aprendizagem no desenvolvimento do jovem praticante. Continuamos a assistir a cada vez mais defesas zonais (ou “Zomem” como dizemos, entre nós treinadores) no escalão de S14, quando, infelizmente, o problema de muitos dos nossos praticantes nestas idades ainda se concentra no 1x1 com e sem bola. Cada vez mais a utilização de bloqueios indiretos quando não se domina os fundamentos da desmarcação e a utilização de bloqueios diretos ou entregas da bola à mão quando ainda não se resolveu o problema da aglomeração. Ao invés de regulamentarmos a utilização de pelo menos 8 jogadores no escalão de s16 (que levava em muitas ocasiões o clube a levar a jogo o atleta que não merecia, contribuindo em nada para o desenvolvimento do espírito de trabalho e superação) devíamos antes arranjar formas de penalizar e impedir estas “artimanhas” que em nada contribuem para o desenvolvimento dos nossos praticantes.

Os quadros competitivos federativos são também eles muitas das vezes um obstáculo à evolução dos atletas e das equipas. Continuamos a reproduzir dois erros ideológicos. Um relacionado com a subjugação dos quadros competitivos distritais/regionais aos nacionais o que leva a que a maioria se secundarize face a uma minoria e nalguns casos a maior concentração de jogos ocorra até Dezembro e a partir daí (pelo menos 6 meses de época) o número de encontros seja residual e opondo sempre os mesmos. O outro erro está relacionado com a ideia de dividir as equipas em séries pequenas com o suposto objetivo de com isso conseguir jogos equilibrados. Na nossa opinião a evolução dos atletas nem só de jogos equilibrados necessita. Os nossos praticantes precisam também de jogar com os mais fortes, de entender o caminho a percorrer e estabelecer esse caminho como um desafio e um objetivo a alcançar. Por sua vez as equipas mais fortes também têm nos seus “quadros” jogadores com menos minutos e que podem assim ter uma oportunidade mais.

As transferências indiscriminadas também terá sido outro retrocesso face à realidade que já tivemos. Com o argumento que não se pode vedar ao jovem a possibilidade de mudar de clube, promove-se a “caça” aos mais aptos, à centralização do talento (levando a jogos cada vez mais desequilibrados) e à venda de ilusões baseadas (muitas vezes) na mentira e na ânsia de alcançar resultados no imediato, levando demasiadas vezes ao abandono precoce e à decapitação de projetos válidos. Naturalmente que ninguém tem o direito de impedir um jovem atleta de se transferir. Por vezes a mudança é essencial e imprescindível para a progressão do atleta, mas a questão quanto a nós é antes: Será sensato e benéfico para o desenvolvimento da nossa modalidade, permitir que um clube (que por vezes até nem teria o escalão, se assim não fosse) receba um número indiscriminado de transferências numa mesma época desportiva e por vezes oriundas do mesmo clube? Será que regulamentar ou híper taxar as inscrições a partir de determinado número de transferências não levaria a uma aposta maior na formação interna? Parece-nos que apenas os “caçadores” de profissão ou seguidores alucinados pelo rendimento em tenra idade, podem discordar nesta questão.

No interior do nosso país a realidade competitiva é bem diferente, o número de equipas e praticantes é (com algumas exceções) menor e a competição consegue-se, por vezes juntando escalões ou até géneros. Neste caso continuamos a insistir na separação do sistema escolar e do sistema federado, quando devíamos promover o quadro competitivo único, que por um lado permitisse a canalização dos alunos do desporto escolar para o clube local e por outro a participação de escolas (sem clube local) em quadros competitivos mais extensos e apelativos. Bem sabemos que este enquadramento já é possível, mas há que torná-lo exequível. Torná-lo exequível obriga naturalmente a uma ação concertada entre o Ministério da Educação e a Federação Portuguesa de Basquetebol, que permita a valorização do papel do professor enquanto responsável pelo grupo equipa, levando a que essa tarefa possa ser enquadrada na sua componente/carga letiva e desenvolvida em horário exequível (tendo em consideração que muitos professores estão a colocados a largos km da sua residência) (jogos entre escola/clube ou escola/escola a realizar durante a semana em horário pós laboral).

2. O Alenquer Basket Clube nasceu fruto de um projeto de minibásquete. Que importância tem e continua a ter o minibásquete na consolidação do clube?
O Alenquer Basket Clube surgiu, tal como (felizmente) outros surgiram no nosso pais, com base no minibasket. Em 2000 iniciamos com 120 minis, em 2002 já tínhamos S14 M e S14F, em 2004, S16M e S16F… e fomos crescendo até aos dias de hoje. O Mini Basket no início foi fundamental para o arranque da modalidade numa Vila sem tradição basquetebolística. Hoje ele será, juntamente com a equipa de Seniores, fundamental para a consolidação do projeto e para a melhoria da qualidade de todas as nossas equipas de formação. Lamentavelmente não temos conseguido a dinâmica no mini que desejamos, fruto de duas limitações fundamentais, o reduzido número de treinadores/monitores que dispomos, face número de equipas e a dificuldade em arrancar com a atividade no início de ano letivo que carece sempre de inúmeras autorizações da autarquia e do Agrupamento de Escolas.

3. Há mais de 10 anos o clube já tinha uma equipa sénior feminina. Um dos objetivos, era ter também uma equipa de seniores masculinos. Esse objetivo foi alcançado, que importância têm as equipas seniores, masculina e feminina na dinâmica do clube?
Como referimos anteriormente, as equipas de Seniores nunca foram um objetivo em si e foram sempre encaradas como espaços onde, os jovens que fizeram o seu percurso formativo connosco, pudessem dar continuidade à sua paixão pelo jogo. De facto, conseguimos atingir o objetivo em 2021 de possibilitar aos masculinos o que desde 2010 temos nos femininos. O caminho foi longo e difícil, especialmente para um clube da periferia sem grandes apoios e que vive exclusivamente da sua formação. Em ambas as equipas, mais de 90% dos atletas fizeram a sua formação no clube e assim deverá e terá de continuar a ser.

A importância destas equipas resulta da projeção que uma equipa de seniores inevitavelmente tem junto dos mais novos, que assim não vêm o escalão de S18 como o fim do sonho, mas sim como o último patamar de preparação antes de integrar a equipa de que todos desejam fazer parte. O espírito de pertença e de identificação com clube também saem reforçados quando os mais novos têm a possibilidade de ver os jogos dos mais velhos, ainda por mais quando alguns deles são os seus treinadores.

Essas referências assumem especial importância no cimentar do gosto pelo jogo, quando se alcançam alguns resultados como foi o caso da vitória deste ano na zona sul da taça nacional de seniores femininos, ou quando um nosso jogador mais velho ajuda um adversário a levantar ou assume ter sido o último a tocar na bola fora.

4. Em 2012 o clube tinha cerca de 100 atletas, quantos inscreveu esta época e qual a sua distribuição por escalão?
Passados 10 anos, ultrapassamos esses mesmos 100 atletas, sem que, contudo, tenhamos inscritos a sua totalidade. O Mini Basket funciona em colaboração com o projeto CAF (Componente de Apoio à Família) da autarquia o que leva a que mais de 50 crianças pratiquem a modalidade. Organizamos, em colaboração com a Associação de Pais, convívios internos e participamos pontualmente nalgumas iniciativas organizadas por alguns clubes. Temos uma média de 12 atletas por escalão sendo a exceção o escalão de S18M e S18F, este último por ser o único que o clube não teve na época de 2022-23.

5. Em 2012 colocamos duas perguntas, que passados mais de 10 anos temos curiosidade em saber quais são hoje em dia as respostas hoje?
- Quais são atualmente as vossas maiores dificuldades?

As nossas maiores dificuldades já foram, de certa forma, enumeradas. A dificuldade em arrancar com o Mini Basket no início da época desportiva e o reduzido número de treinadores (7 treinadores para 11 equipas).

- O que é que tu pensas que poderia ser feito pela tua Associação e pela Federação para melhorar o minibásquete no país. Tens medidas a sugerir a breve e a médio prazo?

Valorizar a iniciativa dos clubes ao invés de a “castrar”. A verdade é que ao nível do mini basket existe hoje muito mais convívios do que noutras alturas. A Associação faz os calendários e os clubes fazem tudo o resto. Quando os clubes tentam um pouquinho mais que a subserviência, são (por vezes) lhes “cortadas” as pernas.

Quanto ao mais, é seguir mais as ideias do Professor Mário Lemos e menos a dos nossos vizinhos espanhóis. É fácil olhar para o lado, ver o sucesso e achar que aquela é a fórmula do êxito. Perdoem-me a comparação, mas é como ir a um treino de seniores e copiar exercícios para os minis do nosso clube, na esperança que com isso venhamos a ter, no futuro, melhores seniores.

Não obstante, existem coisas que podemos fazer de forma diferente, ou pelo menos empenharmo-nos realmente em as efetivar. “Coisas” que provavelmente outros já fizeram, e que são essencialmente medidas estruturais. Precisamos como disse anteriormente, de massificação, de aumentar em muito o número de praticantes e isso apenas se consegue por intermédio da escola (nada de novo, não é?). Temos de ligar o Desporto Escolar ao Federado e ter a coragem para nalgumas regiões assumir a sua fusão. Isso passa por permitir, a competição durante a semana aos clubes escola, a inscrição de atletas partilhada entre federação e ministério da educação, o reconhecimento dos professores de educação física envolvidos, com pelo menos o grau I, a elaboração de turmas escolares de acordo com a sua inscrição no clube de basquetebol (permitindo assim o treino regular), o enquadramento da atividade de treino e jogo como carga letiva do professor/treinador, a correspondência entre os escalões nos dois sistemas…

Também neste campo muito do que referi já foi feito ou é possível de fazer face à legislação atual, mas a verdade é que por uma ou outra razão não se operacionaliza.

6. Certamente tens acompanhado o projeto do Basket Art. Qual a tua opinião sobre este projeto e em que medida este projeto poderia trazer a consolidação do basquetebol em Alenquer, caso a câmara decidisse aderir?
O “Basket Art” é um projeto que pode servir para divulgar e estimular a prática do jogo no nosso concelho. Foram precisos muitos anos para conseguirmos ter o campo ao ar livre em Alenquer, mas esta iniciativa da federação pode e deve servir para conseguirmos aumentar os campos disponíveis no concelho e com isso aumentar a possibilidade da prática autorregulada dos nossos jovens. Sem dúvida que é algo que nós enquanto clube queremos explorar.

7. Não sei se tens acompanhado os artigos publicados no Planeta Basket sobre uma nova divisão geográfica e administrativa da modalidade. Face às dificuldades levantadas ao Alenquer Basket Clube, por estar relativamente afastado de Lisboa, como encaras a eventualidade do estudo duma nova reorganização geográfica e administrativa da modalidade?

Uma nova divisão geográfica e administrativa da modalidade pode ser parte da solução, porque a atual está desajustada e de facto existem muitas assimetrias no desenvolvimento/implementação da modalidade. Se isso contribuir para que se possa identificar melhor as dificuldades de cada região e simultaneamente com isso conseguir mais facilmente combatê-las, acho que sim, mas não será apenas uma reorganização desse nível que vai acabar com os problemas.

8. Terminamos como habitualmente, Que pergunta gostarias que te fizesse e que resposta darias?
Quais devem ser, na tua opinião, os grandes objetivos do Alenquer Basket para os próximos anos?

Chegar a cada vez mais crianças, aumentando muito a base no mini basket, continuando a oferecer-lhes uma prática envolta de princípios e valores que os ajudem no seu futuro enquanto cidadãos. Se for possível, com o nosso trabalho, contribuirmos para trazer para a modalidade jogadores de alto nível, melhor, mas para nós chegará sempre a noção de dever cumprido que vimos reforçada, quando encontramos ex-jogadores a demonstrar gratidão por aquilo que viveram ao longo dos anos.

Investir na formação de jovens treinadores e sobretudo naqueles que fizeram o seu percurso no clube, pois parece-nos ser a melhor forma de continuar a não abdicar do que construímos desde 2000.

 

 


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